quarta-feira, agosto 9

Pronto...

...mudei. Agora, vocês me acham aqui.
Digam lá o que acham da nova casa.

segunda-feira, agosto 7

Costa Amalfitana, I



I.
A Costa Amalfatina é o mais bagunçado lugar chique em que eu já estive. De lá – de Positano, especialmente – têm-se acesso à ilha de Capri, onde o jet set (ainda se diz jet set?) italiano (e europeu, et c.) passa as suas férias.

Mas é uma bagunça. A Costiera serpenteia as cidades em duas pistas que valem por uma, quando muito. Nas curvas, há espelhos convexos, para tentar evitar ataques cardíacos: os ônibus, aconteça o que acontecer, não param e os seus motoristas buzinam, para avisar que te esmagarão contra a parede de pedra ou te arremessarão do penhasco, conforme o lado em que você for pego. Pelo menos você os vê chegando, pelo espelho, e morde o lábio, murmurando uma curta prece a San Gennaro – é a única coisa que se pode fazer.

A vista recompensa. No videozinho não consegui captá-la com o esplendor todo. Mas percebam a maestria do motorista: além de manter o carro na estrada e filmar a paisagem, ainda há, no som de fundo, a prova de que duas crianças pulavam no banco de trás, torturando seus avós.

terça-feira, agosto 1

Roma.

Quando se vem da Costa Amalfitana, Roma parece uma velha chata e organizada, mas que não limpa bem os cantos.

As filas do Coliseu (primeira parada obrigatória para quem é turista, como nós, sem aspirações às mimeses de Richard Burton) cuidam de desmentir a aparente organização: jovens com crachás indecifráveis oferecem guided tours que, por alguns euros, deixam para trás todos os demais incautos. Além deles, legionários barrigudos e tatuados vendem poses, sob o sol, às japonesinhas menos envergonhadas. O espírito romano começa a se desenhar: o ar cosmopolita e apressado dos citadini esconde sua dependência das hordas turísticas que invadem a cidade, à cata de suas ruínas e monumentos.

A Fontana de Trevi já deve ter tido cara melhor: embora as suas águas translúcidas, verde-azuladas, ainda façam uma composição mágica com o concreto amarelado e histórico de Netuno e seus cavalos, e o barulho das cascatas seja entontecedor, não há Mastroianni que resista a um bando de hindus e chineses espocando flashes, uns nas cabeças dos outros.

Caminhamos por Roma contra a nossa vontade: táxis já são difíceis por lá, e ficaram virtualmente impossíveis com o sciopero, que nos pegou de calças curtas. Com duas crianças pequenas e seus dois avós, nossa capacidade de deslocamento passou a ter fatores-limites em quatro pernas muito novas e em outras quatro, já cansadas.

Ainda assim, acompanhamos uma procissão de três horas, sob o sol, para chegar à Capela Sistina. É uma das obras mais fáceis de elogiar – justamente porque é o capo lavoro de todos os capi lavori. Apesar do calor infernal, da barulheira galinácea dos colegas turistas, é possível perder-se, por alguns minutos, nas figuras que se desprendem do teto. Êxtase na pintura, e agonia, depois de mais algum tempo em pé, com as crianças puxando as calças, uma com medo da caveira saída do Juízo Final, outra querendo saber porque o Michelângelo pintou murcha a própria cara.

À noite, a cidade é simpática e calma. Os restaurantes fecham cedo, mas percebe-se o agito dos bares e das casas de música. Na Via Nazionale, no caminho entre o hotel e a lan house de um indiano (onde ia, viciado, ver os e-mails toda noite), descobri o Flann O’Brian Irish Pub. Ensaiei entrar e pedir uma Guiness, mas desisti, depois de ver que um dos destaques do menu era uma impensável picanha argentina. Multiculturalismo, sobretudo em cardápios, tem limites.

Mas come-se muito bem em Roma, claro – só que apenas nos curtos horários em que os restaurantes se mantêm abertos: não há, na Itália inteira, o rodízio de dois ou três clientes por mesa, como temos em São Paulo. Isso não só pelo famoso ritual, de primeiro e segundo piatti, mas também porque os restaurantes, se usarem produtos congelados ou concentrados (como um prosaico caldo de carne, por exemplo) são obrigados a fazerem a ressalva, nos menus. Logo, como ninguém quer se diminuir no próprio cardápio, só se come comida absolutamente fresca.

No último almoço, o simpático garçom entristeceu-se por não ter gelati: eles não tinham nem freezer... Mas recomendou Il Gelatone, logo ali, na Via dei Serpenti. E, lá, favorecida por um calor africano, mais uma obra-prima.

Chegar ao Fiumicino, sem táxis, prometia ser uma aventura: falando italiano com a recepcionista do hotel, só conseguimos um bilhete, sob a porta, dizendo que, me dispiace, nada podiam fazer. Mas tentei um truque: procurei outra recepcionista, com quem ainda não tivesse falado, e perguntei, em inglês, o mais britânico que consegui produzir, se ela não poderia nos ajudar – afinal, tinha elderly people and small children, para cuidar. Em uma hora, ela nos conseguiu uma van, com guia e tudo. Pode ter sido só coincidência, mas...

sexta-feira, julho 21

O Fim da Viagem.

No aeroporto de Madrid-Barajas, tentei prolongar a sensação de ser estrangeiro evitando ficar junto ao portão de embarque, onde já tinha ouvido dois gays demarcarem, com alegres gritinhos, as emoções de um PlayStation Portable, cujos efeitos sonoros absorviam de um romântico fone duplo. Afastei-me o mais possível dali, enquanto o resto da minha entourage desmoronava-se nas confortáveis cadeiras da espera.

Aquele aeroporto, aliás, me fez sentir um estrangeiro no espaço e no tempo: talvez seja o mais longe que alguém pode chegar do Brasil de hoje. O lugar é enorme; trens silenciosos conduzem os viajantes atônitos para os portões de embarque, e a placas adivinham os minutos que faltam para você alcançar o seu portão. Os vôos não são anunciados nos alto-falantes, mas em largas telas de cristal líquido. É uma obra de engenharia e arquitetura finalmente típica do terceiro milênio. Vai das curvas orgânicas de Gaudí à assepsia metálica de Gehry. E, o que é melhor, sem passar pelo Niemayer.

Mas estava ali só em escala e, voltava determinado a não achar tudo uma porcaria; disposto a, na comparação com a Itália, não achar tudo tão irremediavelmente ruim. A música popular italiana, por exemplo, parou nos anos 80 e não conseguiu, até hoje, se livrar do sintetizador. Claro, a de cá não é melhor – mas, ao menos, não é tão pior. A organização das coisas, idem: lá, como aqui, tudo se arranja na conversa (às vezes aos berros), apesar da incrível quantidade de leis. Essa era a atitude mental que eu tentava me impor: aqui não é tão ruim, as coisas em outros lugares não são muito melhores e, caramba, aqui você tem toda a sua vida. Você nasceu aqui, goste ou não!

Mas essa bobagem não resistiu ao cara legal e de tiara que, depois de todos sentados e acomodados no avião, exibia sua enorme boa-vontade em trocar de lugar para que um casal de idosos pudesse sentar lado-a-lado : “para mim, tudo é alegria. Vamos para o Brasil, ê! Tem coisa melhor?” Sorrisos, sorrisos. Só faltaram palmas e u-hus.

O tipo é comum – magro, meio narigudo, moreno e com olhos grandalhões no rosto mal-barbeado. Exibe, além da tiarinha discreta, uma camiseta engraçadinha – no caso, uma camiseta preta, com “PUM” em lugar de “PUMA”, e uma vaca, fazendo as vezes do felino, no logotipo famoso. Sentou-se, enfim, e fez algum comentário em semi-francês para o vizinho da poltrona, que respondeu em português: era brasileiro, há-há.

A minha trupe – eu inclusive – conseguiu dormir o vôo todo, de sorte que só avistei o cara legal depois do desembarque, quando ele, retirando a sacola da esteira (esse tipo, por alguma espécie de corporativismo, não usa malas) declarou à moça ao seu lado – e ao resto dos infelizes circundantes, com saudável e catabólica honestidade: “ainda bem que veio logo. Estava louco para ir ao banheiro. Tchau-tchau”. Pela cara e pela pressa, era número dois.

Por maior que seja a boa-vontade, não há otimismo que resista ao desânimo de viver no mesmo lugar que caras legais, como esse. Por isso, mais tarde, no táxi, quando abri o jornal e dei de cara com um ônibus incendiado na Aspicuelta, já estava curado, e dei de ombros.

terça-feira, julho 18

A Postos.

Voltando, qual Brancaleone, de peninsular expedição, despeço-me deste endereço.

Teria encontrado Aurocastro? Quase: há quem leia este pobre bloguinho e dele faça tão despropositada conta, que o convidou a ingressar em poderosa armata.

Para tão nobre companhia, estes velhos trapos não mais servirão. Por isso, tendo a costureira real demandado uma semana, uma semana mais repousarei.

Para o retorno, prometo, de frente para trás, a história de todo o périplo, capaz de fazer adormecer o mais insone dos corajosos leitores destas humilíssimas páginas. Aguardem e roncarão.

quarta-feira, junho 28

Saio do blogue para entrar na Itália.

Vou. Mas volto?

sábado, junho 24

Web Surfer?

Você acha que gosta de navegar pela internet, não é?
Tem amigos que indicam sites bacaninhas, não é?
Dude, se você não foi ao stumbleupon, tá no quebra-coco.